Dados recentes do Inpe indicaram um aumento acelerado no desmatamento na Amazônia, revelando que os números deste ano foram os maiores dos últimos 10 anos. O Portal Veg conversou com Danielle Celentano, engenheira florestal formada pela Unesp, mestre em Conservação de Florestas Tropicais e doutora em Biodiversidade e Biotecnologia, para entender melhor sobre o assunto e por que a floresta está caindo. Danielle também é pesquisadora no pós-doutorado e professora associada ao Programa de Pós-Graduação em Agroecologia na Universidade Estadual do Maranhão.
Portal Veg: Os últimos dados divulgados pelo Inpe indicam que o desmatamento na Amazônia este ano é o maior desde 2008. O que significa isso e por que esses dados são preocupantes?
Danielle Celentano: O aumento do desmatamento significa que o Brasil continua destruindo o seu maior tesouro que é a Floresta Amazônica com toda sua riqueza biológica, hidrológica e cultural. Isso é extremamente preocupante porque além de perder toda essa riqueza sem ganhos socioeconômicos relevantes para a população local, o desmatamento causa grandes emissões de carbono para a atmosfera e afeta o ciclo hidrológico e as chuvas de todo o continente, o que tem impactos negativos diretos e indiretos na economia do país e no bem-estar de toda a população.
Portal Veg: Era possível prever que o aumento chegaria a esse ponto a partir dos números alarmantes que já vinham sendo divulgados ao longo do ano?
Danielle Celentano: Dados preliminares do Inpe (Sistema DETER do Sistema de Monitoramento de Queimadas) e do Imazon (Sistema SAD) já indicavam essa tendência de aumento do desmatamento.
Portal Veg: Quais são os principais motivos pelos quais houve esse crescimento acelerado agora?
Danielle Celentano: Historicamente o avanço do desmatamento na Amazônia segue um padrão que inicia com a especulação e a grilagem de terras públicas, segue com a extração ilegal de madeira e a conversão do solo através de queimadas para o uso agropecuário. Vários motivos levaram ao crescimento do desmatamento, entre eles o aumento na especulação e grilagem de terras, a diminuição na fiscalização e combate ao desmatamento e a ausência de políticas públicas integradoras que valorizem a floresta em pé.
Portal Veg: O que pode ser feito para tentar minimizar os impactos desse desmatamento acelerado?
Danielle Celentano: É fundamental que nosso país consiga cumprir suas próprias leis e coibir atividades ilícitas como a grilagem de terras públicas, a exploração ilegal de madeira e o desmatamento de áreas protegidas. O Brasil precisa avançar com a agenda de Desmatamento Zero na Amazônia, efetivando ações práticas para cumprir essa meta. Já existem áreas desmatadas o suficiente para aumentar a produção agropecuária sem a necessidade de derrubar mais florestas, muitas dessas áreas estão abandonadas. Além disso, o país precisa investir na Restauração da Paisagem Florestal, ou seja restaurar florestas, garantir bem-estar e promover alternativas econômicas com base florestal para as populações que vivem na região.
Portal Veg: Como a aceleração do desmatamento reflete a situação ambiental do país atualmente e a relação disso com o atual governo? Seria possível evitar isso?
Danielle Celentano: Infelizmente o aumento do desmatamento reflete a ausência de um sistema eficiente de fiscalização, combate e punição às ações ilícitas que ocorrem na região amazônica. Além disso, falta ao poder público uma visão estratégica para o desenvolvimento da região onde a conservação da floresta e o uso sustentável dos seus recursos naturais sejam os pilares de um novo paradigma para o desenvolvimento econômico. O potencial é gigante! A população também deve fazer o seu papel, cobrando ações concretas para coibir o desmatamento e recusando produtos que advenham de áreas desmatadas ou de empresas que não se comprometeram com o Desmatamento Zero.