As manchas de óleo que vêm aparecendo nas praias do Nordeste preocupam estudiosos e ambientalistas. A tragédia ambiental, que se iniciou ainda no final de agosto, tem tomado proporções cada vez maiores e seus impactos ficam claros diante da imensa quantidade de animais encontrados mortos ou afetados.
Entretanto, apesar de ser evidente que o material, já encontrado nos nove estados da região, é prejudicial para os ecossistemas marinhos e para as atividades humanas no litoral, o porquê desses impactos não fica claro para todos. O petróleo cru é uma substância de alta toxicidade, sendo extremamente prejudicial para a saúde humana e para o meio ambiente. Contudo, a principal questão das consequências do derramamento não está exatamente no que elas causam, mas sim no tempo durante o qual os organismos envolvidos serão afetados. Os impactos do vazamento de petróleo são muitos e continuam acontecendo, mesmo após a limpeza do material.
Em entrevista à BBC News, a oceanógrafa Mariana Thevenin, formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e organizadora do grupo Guardiões do Litoral, que promove ações de limpeza nas praias de Salvador, expressou as suas preocupações em relação à duração das consequências do derramamento. Segundo ela, a poluição química dura muito mais tempo do que aquilo que enxergamos como poluição. Mariana explica, por exemplo, como o impacto na cadeia alimentar pode ser muito maior do que se imagina: “Essas substâncias contaminam todos os organismos do ambiente e isso facilmente cai na cadeia alimentar. Um pequeno peixe, por exemplo, pode comer algo que esteja contaminado. Isso entra na cadeia até chegar no peixe que consumimos”.
É consenso entre os especialistas que a contenção do petróleo é um ponto essencial nas ações a serem tomadas, e os órgãos responsáveis já estão atrasados, nesse sentido. Permitir que o material chegue às praias dificulta muito a sua remoção e aumenta os seus impactos. O petróleo cru é um material orgânico, ou seja, pode ser degradado pelo ambiente, mas também é um composto de alta densidade. “A degradação natural é extremamente lenta”, declarou Carine Santana Silva, oceanógrafa e pesquisadora da UFBA, à BBC. “Em áreas onde já ocorreram derrames, temos análises feitas anos depois do episódio e ainda assim é detectada a toxicidade. Por isso seria importante evitar que esse óleo chegasse na costa.”
A saúde das pessoas também é uma preocupação importante, já que o material pode contaminar o oceano e os alimentos ingeridos pela população por mais tempo do que se imagina. A química Sarah Rocha, que trabalha no laboratório de pós-graduação em Petróleo, Energia e Meio Ambiente da UFBA e faz parte da equipe que tem analisado os compostos encontrados, afirmou à BBC que os trabalhadores permanecerão pescando alimentos contaminados, pois esperar até a descontaminação total do ambiente é financeiramente impossível. “Essas amostras têm pouca solubilidade em água. Então, o que não for retirado, ainda vai parar no fundo do mar, sem ninguém ver, contaminando mais esse ambiente”, disse.
As preocupações são imensas e os impactos dessa tragédia irão afetar o ambiente e a sociedade por muito mais tempo, ainda. Entretanto, como a contenção do material em água não foi efetiva, a limpeza agora provavelmente terá que ser feita manualmente. É necessário equipamento de proteção adequado, devido à toxicidade do material, mas, diante da dificuldade de manuseio e da sensibilidade do material, maquinário pesado pode dificultar a remoção e gerar maiores impactos para o ambiente.