O programa “Escola Sustentável”, que inclui alimentação vegana em escolas da Bahia, é destaque no jornal estadunidense The Washington Post. A iniciativa, desenvolvida no estado pela promotora Letícia Baird, atinge cerca de 30 mil alunos e teve início em 2018. “É um surpreendente paradoxo da vida aqui: o Brasil, o maior exportador mundial de carne bovina – um país em que as vacas superam as pessoas e uma festa não é uma festa sem churrasco – também tem uma das mais altas taxas de vegetarianismo”, escreveu o correspondente do jornal no Brasil, Terrence McCoy.
Nas quatro cidades participantes (Serrinha, Barrocas, Biritinga e Teofilândia), os gestores concordaram em cortar 25% dos alimentos de origem animal das merendas escolares a cada semestre, até o final de 2019. De acordo com Letícia, o objetivo é a preservação do meio ambiente, que precisa de mudanças de hábitos, mas não só: “Em um ambiente rural, ela perguntou, com pouco dinheiro e menos água, por que não remover a carne, um produto que exigia muito dos dois? Em uma região onde as crianças sofrem com altos índices de obesidade, por que não ajudá-las a se tornarem um pouco mais saudáveis? Por que não economizar dinheiro para a comunidade com custos médicos?”
No entanto, como relata a reportagem, houve polêmica com a mudança. A diretora do Conselho de Comida Escolar de Serrinha, Ariane Santiago, levou dados e questionamentos ao Conselho Regional de Nutricionistas de Salvador e, posteriormente, ao Conselho Federal. Ambos manifestaram preocupações em relação ao programa.
“Não é que Ariane não queria que as crianças comessem de forma mais saudável ou economizassem dinheiro público. Era uma questão de identidade. O que é Serrinha e o que não é. E esse alimento, com ingredientes exóticos e alternativas de proteínas, não era Serrinha. ‘É uma cultura aqui’, disse'”. A reportagem ainda afirma que como Letícia não é do Nordeste, para a diretora, ela estaria querendo implantar algo de fora da cultura local e que as crianças estariam recusando os alimentos veganos e levando carne de casa.
“Letícia produziu uma longa contestação às críticas, enumerando os benefícios de uma dieta vegana, listando as dezenas de estudos que ela acreditava que provariam seus argumentos. Mas era tarde demais. O Fundo Nacional para o Desenvolvimento Educacional (FNDE), a agência que supervisiona as refeições escolares, ameaçava suspender o financiamento se os prefeitos locais removessem produtos de origem animal todos os dias da semana. A batalha da comida vegana chegou a um impasse”, diz a reportagem.
Segundo Letícia, a alimentação disponibilizada anteriormente estava falhando com as obrigações determinadas por lei. “O custo financeiro e ambiental com esses alimentos não é compatível com a lei do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que diz que o cardápio tem de se pautar na sustentabilidade e diversificação agrícola da região”, afirmou, ao Correio da Bahia, no ano passado. Ela revelou, também, que os maiores gastos dos colégios estavam sendo com carne e leite em pó.
Letícia percorreu as escolas da região e viu cenas diferentes das relatadas pela diretora e ficou orgulhosa do que viu. “As crianças pegavam a comida, comendo todos os sanduíches, rindo e brincando. Não foi a experiência infernal que os críticos do programa descreveram.”