Com um ano completo no sábado (25) desde o rompimento da barragem da Vale do Rio Doce em Brumadinho, cidade de Minas Gerais, a discussão sobre as consequências desse crime ambiental voltam à tona. Além dos evidentes prejuízos, materiais e imateriais, às famílias dos atingidos, os danos ambientais também configuram em uma realidade preocupante.
A agricultora Soraia Aparecida Campo disse ao G1 que, desde a tragédia, utiliza apenas água mineral no seu cotidiano. “A gente não confia em análise nenhuma ainda”, afirmou. O derramamento atingiu o terreno onde Soraia cultivava, mas hoje é impossível de aproveitar. Agora, o local disputa espaço com um paredão cinza que marca a região onde estão sendo feitas obras para a construção de barragem para os dejetos.
“Isso aqui era o paraíso, a coisa mais linda que você imaginar. Tinha um córrego, aí tinha verde claro, verde escuro, a coisa mais linda do mundo porque aqui tudo era agricultura”, diz. “Hoje nós estamos sem rumo. A agricultura em Brumadinho, para mim, não vejo aquele ‘vou começar de novo’. Não vejo onde começar aqui”, desabafou.
A tragédia também afetou o percurso do Córrego Ribeirão Ferro-Carvão, que recebeu boa parte da lama. Rogério Galvão, gerente executivo de projetos de recuperação da área de Brumadinho, diz que o reservatório será recuperado: “A gente estabeleceu este ponto, como um ponto inicial para a gente implantar um projeto nosso conceitual de recuperação ambiental. Nós chamamos de Marco Zero, justamente por ser um projeto piloto”. No entanto, não há um prazo para a retirada total dos rejeitos, e o processo pode demorar muito.
“A nossa intenção é que os dois primeiros quilômetros do Rio Paraopeba, que é onde realmente teve maior deposição de rejeito, sejam completamente dragados agora neste ano de 2020”, diz Galvão.
Outro manancial muito afetado foi o Córrego do Feijão. A lama afetou também a nascente, localizada na Fazenda da Índia, que hoje sustenta apenas um aviso dos proprietários: “Prezados clientes, informamos que a partir do dia 25/12/2019 não estaremos realizando venda de suínos. Devido ao rompimento da Barragem da Vale, ficamos impossibilitados de dar continuidade em nossas produções. Desejamos a todos um feliz 2020 e agradecemos pelos 35 anos de dedicação e preferência à Fazenda Índia”.
Segundo o jornal Estado de Minas, Lucas Pereira dos Santos, funcionário do local, afirma que as consequências vão além. “A comunidade também acabou. Não tem mais supermercado, mercearia fechou, gás, tudo precisa ser comprado em Brumadinho. Aqui ainda tem algum gado, mas a partir deste mês já vai vender. Parece que a Vale deve comprar a fazenda, foi o que eu ouvi falar”.
Vagner de Jesus Silva completa: “Não sei o que vai ser da gente. Estou esperando para ver se o patrão vai me mandar embora, se vou ficar desempregado. Perdi um amigo na pousada, o Macuco, e uma colega que era terceirizada na cozinha do restaurante da mina da Vale. Tudo isso daqui foi muito triste e a gente sente essa tristeza”.