Em Florianópolis, um grupo de cinco mulheres conseguiu se eleger trazendo para a campanha a pauta do bem viver, um conceito inspirado nos povos indígenas que prevê uma relação harmoniosa entre os seres humanos e a natureza. Conforme explicou a filósofa argentina Isabel Rauber, “para essa perspectiva, a natureza não é um objeto; não é uma fonte de recursos e matérias-primas; é um ser vivo. Esta dimensão ecológica da realidade reconhece que a natureza é indivisível e intrinsecamente imbricada à vida dos seres humanos; somos parte da natureza”.
Com essa ideia, Cíntia Mendonça, Joziléia Daniza Kaingang, Lívia Guilardi, Marina Caixeta e Mayne Goes foram eleitas à Câmara da capital catarinense. “A Coletiva Bem Viver quer levar para a Câmara um novo jeito de construir a cidade a partir da equidade de representação (raça, classe, sexualidade, credo, gênero e identidade de gênero e de capacidades), da participação popular e da gestão comprometida com o bem comum, onde o povo manda e o governo obedece”, dizem.
Na questão vegana, elas prometem lutar pela libertação animal. “A relação entre animais humanos e não-humanos deve ser mantida sem hierarquias, ou seja, os animais não-humanos também devem ser reconhecidos como sujeitos de direitos. Nesse sentido, devemos lutar para que qualquer animal, assim como nós humanos, estejam livres de qualquer forma de opressão e exploração. Entendemos que a luta pela libertação animal está intrinsecamente relacionada com o ecossocialismo e o horizonte do bem viver.”
Entre os compromissos estão incentivar campanhas que promovam a adoção animal responsável e desestimulem o comércio de animais (domésticos, silvestres, nativos ou exóticos) e a prática dos crimes de maus tratos e abandono; apresentar projetos de castração gratuita de animais, além de atendimento especializado para emergências e tratamento de doenças diversas, incentivando a progressiva ampliação de hospitais veterinários públicos e estendendo o atendimento a outros animais além dos considerados animais de companhia (cães e gatos); e promover políticas públicas de atenção à saúde física e emocional de protetores que rotineiramente resgatam e socorrem animais em vulnerabilidade.
Ecofeministas
Elas também vão levar à Câmara propostas ecofeministas. “O ecofeminismo conecta a luta ecológica e das mulheres, percebendo a relação intrínseca entre a dominação, exploração e opressão das mulheres e da natureza, em busca de um modelo alternativo de sociedade que tenha o Bem Viver como objetivo central.”
Entre as propostas, elas pretendem “efetivar uma rede de apoio multidisciplinar (jurídico, saúde, psicológico, assistência social, econômica) para mulheres vítimas de violência doméstica, inclusive prevendo a ampliação de vagas em abrigos, articulação e formação dos profissionais envolvidos para realização de atendimento humanizado”.
Há ainda outras propostas em áreas como saúde, educação, a luta antirracista e cultura, sempre pautadas pela perspectiva do bem viver. A chapa coletiva teve 1660 votos e foi eleita pelo PSOL.