Patrícia Garcia (Foto: Arquivo pessoal)

A atriz Letícia Sabatella usou as suas redes sociais no último final de semana para denunciar o caso de uma mãe que perdeu a guarda do filho, de um ano e dois meses, ainda em fase de amamentação, por ser vegana e por discriminação religiosa. A paraguaia Patrícia Garcia, que mora em Foz do Iguaçu (PR), fez um abaixo-assinado on-line para tentar recuperar o bebê Sama. Até a manhã desta quarta-feira (30), mais de 100 mil pessoas assinaram o documento.

De acordo com informações apresentadas no abaixo-assinado, Patrícia sofreu abusos psicólogos, morais e patrimoniais do ex-marido, Julio Moreira, durante a gestação, o que resultou em seu divórcio e até em medidas protetivas contra o pai da criança. O homem então entrou com um processo na Justiça alegando que o bebê era vítima de maus tratos devido à dieta vegana que a mãe segue.

A Justiça decidiu transferir a guarda do filho para o pai alegando que a mãe foi negligente nos cuidados com a criança, colocando sua saúde em risco. Patrícia é de descendência indígena e adepta à religião Hare Krishna, que não permite consumo de alimentos de origem animal. A própria Secretaria de Direitos Humanos de Foz do Iguaçu reconheceu a violação dos direitos de Patrícia no caso.

De acordo com o G1, Patrícia diz que não foi ouvida para poder se defender e alega que a medida foi discriminatória. A defesa da mãe entrou com recurso no Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) e aguarda que a decisão liminar do processo, que tramita em segredo de Justiça, seja revertida.

Patrícia chegou a apresentar documentos à Secretaria de Assistência Social de Foz do Iguaçu provando que o bebê é saudável e bem cuidado. Entre eles, estão relatórios médicos que comprovam o comparecimento da criança em consultas pediátricas, assim como laudos que orientam sobre a vacinação de Sama.

Um dos argumentos apresentados contra a mãe foi justamente a aplicação de vacinas. Patrícia foi acusada de não permitir a vacinação do filho por questões pessoais e porque algumas eram de origem animal. A advogada dela afirma, no entanto, que a criança não estava com o calendário vacinal atualizado por recomendação médica, pois o menino estava apresentando reações alérgicas.

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#Repost @midianinja ・・・ #Repost @XepaAtivismo Há mais de 40 dias Patrícia Garcia (@pavitragarado) perdeu a guarda de seu filho Sama, de um ano e dois meses, sob a alegação de negligência por conta da adoção da dieta vegana em sua criação. O pequeno Sama nasceu com hidrocefalia (acúmulo de líquido nas cavidades internas do cérebro) e foi retirado de sua mãe ainda em fase de amamentação. O pai alega que a criança era vítima de maltrato devido à dieta que a mãe segue e por conta da sua religião, Hare Krishna, que não permite consumo de alimentos de origem animal. Contudo, Patrícia possui laudos médicos que provam que Sama estava sendo bem cuidado e nutrido de maneira correta. Mesmo Patrícia apresentando laudos da Secretaria de Direitos Humanos de Foz do Iguaçu, provando que seu bebê é saudável e bem cuidado, o poder judiciário mais uma vez alega preocupação com a vida da criança. Eles usam da cultura patriarcal para não respeitar a escolha de uma mãe sobre a dieta alimentar de seu filho. O caso de Patrícia não é o único que mostra a ignorância institucional que permeia o entendimento em relação ao Veganismo ou Vegetarianismo. Em uma rasa pesquisa no Google, você se depara com manchetes tendenciosas, sensacionalistas e negativas sobre a adoção das duas dietas na alimentação de crianças: “Mãe vegana mata bebê menino de fome após lhe dar só frutas e vegetais". “Mãe vegana é presa por negligenciar a alimentação de seu bebê". “Mãe recebe duras críticas por criar seu filho como vegano". “Mãe perde tutela do filho após optar por dieta vegana.” “Mãe vegana perde a custódia após se recusar a alimentar seu filho com produtos de origem animal". Mesmo com toda a desinformação por grande parte da sociedade, a alimentação vegetariana e vegana são reconhecidas como apropriadas em todas as fases da vida tanto pela Organização Mundial da Saúde, em âmbito internacional, quanto pelo Ministério da Saúde, em âmbito nacional. Como qualquer dieta (com ou sem ingredientes de origem animal), especialmente em fases como infância e lactação, é importante o acompanhamento médico e nutricional. Divulguem e assinem na página @devolvam_sama_pra_mae Tweet: @paolastier #devolvamsamap

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Luísa Fragão
Jornalista e estudante de Ciências Sociais na FFLCH-USP. Vegetariana desde os 16 anos. Acredita que a vida sem crueldade animal é muito mais ética, sustentável e saudável. É subeditora do Portal Veg.