Uma pesquisa recém-publicada na revista científica Science evidenciou níveis alarmantes de bactérias resistentes a antibióticos na população mundial de bois, frangos e porcos. A pesquisa baseou-se numa análise de mais de 900 estudos epidemiológicos de todo o mundo e destaca um aumento significativo dessas bactérias em países emergentes, como Brasil, China, Índia, Quênia e Uruguai.
Isso acontece porque, na criação de animais para abate em larga escala, os antibióticos são utilizados indiscriminadamente, sem indicação e com pouco controle. Esse tipo de medicamento deve ser utilizado apenas quando necessário, justamente para não gerar bactérias resistentes. Entretanto, na indústria agropecuária, os antibióticos são aplicados incorretamente para impedir o surgimento de doenças nos animais. A consequência é o desenvolvimento de resistência pelas bactérias, já que esses organismos são extremamente adaptáveis e criam mecanismos de defesa. Assim, passam a não ser afetadas pelo antibiótico, que perde seu efeito.
O estudo constatou que a presença de bactérias resistentes na carne animal comercializada para consumo aumentou significativamente nos últimos 20 anos. Mais de 40% do total de frangos analisados apresentaram um nível de superbactérias de 50%, em 2018. Em 2000, esse número era de 15%. Já no caso da carne de porco, o índice aumentou de 13% para 34%. Na carne bovina, a alteração foi de 12% a 23%.
A presença de superbactérias na carne animal pode ser prejudicial para o ser humano porque essas bactérias são transmitidas pelo consumo desses animais. Assim, cada vez menos antibióticos efetivamente fazem efeito nos organismos humanos e animais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para os graves riscos da resistência bacteriana para a saúde humana, a níveis mundiais, pois ela representa um caminho para a ineficácia dos antibióticos, em que infecções simples podem se tornar, mais uma vez, fatais.
*Com informações da Sociedade Vegetariana Brasileira
Fonte: Van Boeckel et al (2019). Global trends in antimicrobial resistance in animals in low- and middle-income countries. Science 365: 6459.