(Foto: Reprodução/Instagram)

A empresária Mayra Cardi, que tem 6 milhões de seguidores no Instagram, causou polêmica nesta quarta-feira (29), após divulgar o resultado de sete dias de jejum. Em seus stories na rede social ela disse, com sua barriga chapada, “olha como estou magrinha”, “olha a cinturinha”. Mayra foi acusada nas redes sociais de incentivar transtornos alimentares, como a anorexia. A postagem foi considerada um gatilho e ganhou uma repercussão negativa.

“A Mayra Cardi ficou sete dias sem comer, mostrou a barriga chapada, fez uma publi pra um produto de emagrecimento e, em seguida, disse que o próximo jejum será de 14 dias. A gente está falando de alguém que está publicamente promovendo transtorno alimentar para 6 milhões de pessoas”, criticou a historiadora Laura Sabino, que afirmou ter transtornos alimentares e disse que quase perdeu a vida por causa de anorexia/bulimia.

“Fazer jejum e incentivar seus milhares de seguidores a fazerem o mesmo já é um gatilho gigante pra transtornos alimentares e uma enorme irresponsabilidade. Fazer isso em plena pandemia enquanto tem gente passando fome é ser mau caráter e não ter um pingo de respeito”, escreveu, no Twitter, Fernanda Imamura, nutricionista do Ambulim (Programa de Transtornos Alimentares) do IPq (Instituto de Psiquiatria) do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP).

Com a repercussão que a postagem ganhou, nesta quinta-feira (29), Mayra voltou às redes para se explicar e disse que a prática não foi feita com o objetivo de emagrecer, apesar de ter mostrado a “cinturinha”. “Quero sublinhar mais uma vez que o meu jejum é apenas com a finalidade da saúde”, afirmou, dizendo que tem uma equipe profissional que a acompanha.
Em seguida citou “artigos científicos” que indicariam o jejum para várias curas. “A pessoa está lá comendo Mc Donald’s, tomando cerveja, fumando, e vem falar do meu jejum?”, rebateu ela, que vende dois programas de emagrecimento “Seca Você Renove” e “Cura Você”.

Após o jejum de sete dias, a influenciadora anunciou que vai fazer 14 dias de um ciclo de crudivorismo, comendo apenas frutas verduras e legumes crus.

Quem acompanhou o jejum de Mayra Cardi

O jejum de Mayra Cardi foi acompanhado pelo nutricionista e mestre em jejum higienista Eduardo Corazza, que diz viver há 15 anos com uma dieta crudivora, baseada em frutas e vegetais crus. Ele diz que enfrentava muitos problemas de saúde, mas conseguiu superar “com uma dieta crua, dormindo melhor, tomando sol, excluindo alimentos industrializados, carnes, vivendo primariamente dos alimentos da natureza.”

Ele conta que fez um jejum de 24 dias à base de água, e ao longo desses dias só parecia mais saudável e melhor. Mas frisa: “Qualquer mudança de estilo de vida e, principalmente o jejum, deve ser medicamente supervisionado. O jejum literalmente salvou minha vida.” “É um mecanismo de autofagia, reciclagem celular, quando o organismo se vê privado de nutrientes, ele começa uma renovação, uma regeneração”, diz ele, citando Valter Longo, autor do livro A dieta da longevidade para uma vida saudável até aos 110 anos (editora Presença). “Seus órgãos, seus músculos, tudo fica melhor. Tem contraindicações, precisa de acompanhamento e você precisa entender o assunto.”

Para Corazza, os animais na natureza, quando machucados, fazem jejum. “Os procedimentos fisiológicos do organismo são muito mais confiáveis, do que procedimentos não fisiológicos. Precisamos duvidar mais dos procedimentos sintéticos, cirúrgicos e farmacológicos.”

Nutricionista alerta para efeitos colaterais

A nutricionista funcional Gisele Roça, colunista do Portal Veg, alerta que tanto dieta com crus e jejum não devem ser feitos sem orientação. “Quando a gente tem um processo de emagrecimento muito rápido, a gente mexe com hormônios, principalmente o hormônio tiroidiano, que é um hormônio regulatório do nosso organismo. Regula toda a parte do nosso metabolismo, a parte de insulina e glicemia”, destaca.

“Quando fazemos isso sem acompanhamento a gente tende a ficar com hipoglicemia, que é a baixa de açúcar, com enxaqueca, por conta dos metabólicos tóxicos. Quando a gente queima massa muscular a gente gera corpo cetônico dentro do corpo. Quando a gente fica muito tempo sem comer nenhum tipo de alimento a gente começa a exalar um hálito ruim, isso é queima e degradação de proteína de dentro do corpo. Isso ao longo do tempo é tóxico para o nosso sistema nervoso central. Sem acompanhamento é complicado”, explica. “A cultura do emagrecimento a qualquer custo contribui para transtornos alimentares e faz cair em modismo, como uma dieta da moda que funciona.”

Jornalista, vegetariana desde criança quando descobriu que carnes, na verdade, eram animais mortos. Cresceu ouvindo as perguntas "mas o que você come" e "como você substitui". Hoje fica muito feliz com o crescimento do veganismo. É editora do Portal Veg.